Guia de sobrevivência alimentar para as férias de Verão

Pedro Carvalho, in Jornal Público
30 de Julho de 2017

"Nas férias existem asneiras que se podem fazer todos os dias e outras que se podem fazer só de vez em quando.

 O principal ponto de partida para este guia é que ele se cinja às pessoas que querem mesmo ter o máximo cuidado com a alimentação nas férias. Uma das máximas de uma abordagem alimentar flexível é a de que em férias não há muito espaço para fundamentalismos e restrições exageradas. Da mesma forma que não é o dia de Natal e passagem de ano que estragam o resto do ano, também as férias de Verão devem ser gozadas por inteiro com tudo a que se tem direito. Ainda assim, como estamos a falar de uma a três semanas e não de dois a três dias, existem algumas regras que, se forem cumpridas, fazem com que o “dano” seja menor.


Podemos quase classificar as férias em dois tipos no que se refere à alimentação: férias de “hotel e praia” e férias de “mochila às costas”. Cada uma terá os seus desafios específicos, mas o objectivo em cada uma delas é fazer o seguinte:

– Resistir ao buffet de pequeno almoço – ovos, queijo, iogurte e leite magros, fruta e pão escuro serão sempre as opções a privilegiar para atingir uma boa ingestão proteica que dê para toda a manhã. Quanto à quantidade de hidratos de carbono, é logicamente diferente para os “mochileiros” que poderão fazer dez a 20 quilómetros por dia a pé e para quem ficará entre praia e piscina todo o dia. Se apanha um buffet com muitos bolos e sobremesas incríveis, divida o mal pelas aldeias e experimente um por dia, em vez de andar todos os dias a comer um prato cheio deles;

– Faça as asneiras valerem a pena – que é o mesmo que dizer que convém que sejam as iguarias típicas do local onde está de férias. Seja o peixe grelhado, o marisco, o pão alentejano, a comida oriental ou as pizzas e massas. Não “gaste créditos” calóricos em erros alimentares completamente desprovidos de ligação cultural à gastronomia local.

– Ande com o seu “kit de sobrevivência” atrás – seja na praia ou em passeio, convém não passar muito tempo sem uma boa ingestão proteica e sem se hidratar convenientemente. Por isso ter na mochila água, fruta, barras proteicas (atentando à quantidade de gordura e açúcar que possuem) ou até o seu shaker com proteína em pó são sempre alternativas práticas e válidas para aquele período, muitas das vezes excessivo, que passa entre o almoço (algumas vezes até o pequeno-almoço) e o jantar.


Falando agora de clássicos de Verão, nas férias existem asneiras que se podem fazer todos os dias e outras que se podem fazer só de vez em quando.

Vamos ao caso das bebidas: é diferente beber um refrigerante light/zero que tem 0 a 15 kcal, ou uma cerveja quem tem 60-80 kcal, ou até um copo de vinho que pode chegar às 120 kcal, e uma sidra com 180 kcal ou uma caipirinha com quase 400 kcal.

Nas sobremesas de praia também há certamente coisas que se podem fazer todos os dias, como um gelado de “gelo” com água e açúcar ou um gelado de leite de fruta que nunca ultrapassa as 100 kcal. É bem diferente de um gelado de cone ou com cobertura de chocolate que já pode chegar às 300kcal ou de uma bola-de-berlim que, dependendo do tamanho e do recheio, pode muito bem atingir as 500 kcal.

Nas grandes refeições, também existem muitos erros que se fazem de forma inconsciente. Vamos fazer o seguinte exercício: uma pessoa que esteja a tentar manter a linha e leu numa revista trendy que os hidratos de carbono são um bicho papão decide pedir uma salada sem hidratos. Escolhe então uma salada que tem os seguintes ingredientes: meio abacate, 100 g de salmão fumado, 1 ovo e 40 g de nozes (um punhado). Tempera com um “fiozinho” de azeite que se traduz em quatro colheres de sopa (pode parecer uma quantidade descabida, mas basta fazer esta experiência em casa para ver a quantas colheres corresponde o nosso “fiozinho” de azeite). Temos então uma salada com menos de 5 g de hidratos de carbono e por isso a pessoa está de parabéns, pelos vistos não vai engordar! Há só um “pequeno” problema… Esta salada tem mil (sim, leu bem, mil) calorias! É uma salada cheia de “boas” calorias e que corresponde na totalidade a um “eat clean”, mas que tem tantas calorias como uma pizza, lasanha, francesinha e demais bombas que são reconhecidas por toda a gente. O mesmo exercício pode ser feito para outros pratos tão agradáveis de comer no Verão como ceviche de salmão (são boas gorduras, mas o salmão têm 20 % de gordura e 300 kcal em cada 100 g), sushi com demasiadas peças de salmão ou com queijo creme, e até o carpaccio (quando é servido com demasiado azeite e parmesão).

É importante não esquecer que o nosso organismo é uma máquina que está constantemente em contagem das calorias que entram e das calorias que são gastas. Há calorias melhores do que outras certamente, mas o acto de engordar/emagrecer corresponde a um desequilíbrio positivo ou negativo deste balanço energético. Por isso, mesmo que as gorduras sejam boas, o risco de nos engordarem quando se comem em excesso também é grande.

Boas férias!"

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